Foto: Push Matcha/Divulgação

Quando Bruno Rohlfs deu o primeiro gole naquela bebida verde, não imaginava que poderia mudar o rumo da sua carreira. Originalmente do mercado financeiro, ele não dormia bem por conta das exigências de sua função e, por isso, tomava bastante café para manter a produtividade em alta. Mas o costume cobrou o preço. “Tenho um grande problema com refluxo, que piorou quando comecei a tomar seis xícaras de café por dia”, conta.

Incomodado, começou a pesquisar outras formas de se manter acordado. Foi durante essa procura que se lembrou que, em 2019, sua namorada havia apresentado a ele o matcha, uma espécie de irmão mais forte do chá verde. “Na época, eu tinha achado gostoso, mas não tinha a menor ideia do que era a bebida”, diz. “Mas voltei a experimentar e comecei a tomar o matcha dela, que era importado. Na hora que acabou, estávamos no meio da pandemia, e eu não conseguia repor”.

Dessa insatisfação, veio o estalo. Ele notou que o matcha era pouco explorado no país e nenhum produto era como aquele que ele havia experimentado anteriormente, fosse pelo preço ou pelo sabor. Por que não, então, apostar nessa bebida milenar que vem caindo no gosto das pessoas ao redor do mundo todo?

Do Japão para o Brasil 

Com muita pesquisa (e com a ajuda do Google Tradutor, uma vez que não falava japonês), Rohlfs encontrou um produtor no Japão 100% orgânico, com uma fazenda de 271 anos de tradição. 

Ali, plantas da espécie Camellia Sinensis, ou chá-da-Índia, são mantidas na sombra, protegidas do sol, para que suas folhas fiquem ainda mais verdes, e sua produção de aminoácidos seja praticamente perfeita.  

O processo que levou à parceria foi lento e só saiu depois de 77 e-mails. “Foi então que pensei em montar a marca. Eu não queria algo que somente vendesse matcha, mas queria ensinar os brasileiros a gostarem da bebida”, afirma.

A Push Matcha nasceu em fevereiro, com um design de cores fortes, foco em mídias digitais e em ter um preço mais acessível para a classe média, público-alvo da marca. Segundo Clara Palazzolo, cofundadora da empresa, o papel do negócio, mais do que popularizar a bebida, é ensinar o público a gostar de novos sabores e até a fazer novas receitas, como pão de queijo de matcha (sim, é possível).

“Muita gente tem o preconceito com a bebida por algumas opções serem muito amargas, não serem cremosas, não sentirem todas as propriedades boas que quebram os efeitos rebotes do café… E aí eu entrei de cabeça”, explica. 

Para o terceiro cofundador, Pedro Wanderley, trabalhar com a Push Matcha é, também, uma realização profissional. “Vai ser uma jornada longa, mas estamos gostando muito de fazer parte disso. Queremos criar essa tendência aqui. Nos Estados Unidos, a bebida já virou um comportamento. Por mais que aqui demore mais, vai virar ‘modinha’ também”, aposta.

Segundo Wanderley, a empresa tem recebido feedbacks positivos sobre o potencial da bebida, com clientes afirmando que se tornaram mais dispostos após consumir o matcha comercializado por eles. “Começamos em passos de formiga, mas, em menos de dois meses, já estamos crescendo”, diz. 

Para Palazzolo, embora a fundação de um negócio em plena pandemia tenha sido bastante desafiadora, ao mesmo tempo, traz a satifação de pensar que pessoas estão em casa pesquisando novas formas de serem saudáveis e acabam caindo no matcha.

“A geração Z quer focar na saúde física e emocional, e precisa prezar por isso em tempos complicados. E acreditamos que o matcha tem uma participação bem bacana com essas pessoas”, afirma. 

O produto da Push chega para o consumidor em uma caixa pequena e redonda, feita de um material que se assemelha ao papelão, bastante resistente e com as cores da marca (rosa forte, verde limão e azul claro). Por R$ 118,50, o consumidor compra 60 gramas do produto. A recomendação de preparo também vem na embalagem: uma colher de chá a ser dissolvida em água quente.

Os cofundadores não divulgam o investimento inicial para a abertura da companhia, mas contam que, em breve, haverá uma rodada para a captação de investimentos, com foco em pessoas físicas. 


Os fundadores do Push Matcha
Foto: Push Matcha/Divulgação

Depois do investimento, a ideia é produzir ainda mais matcha, neutralizar a emissão de carbono da companhia, aumentar a campanha de marketing e lançar uma “bebida pronta” –que, por enquanto, segue secreta. 

Mercado em ascensão

A ideia do grupo tem por trás números animadores. Com um crescimento estimado em 4,7% neste ano, o mercado de matcha deve fechar 2021 valendo cerca de US$ 1,87 bilhão, segundo a consultoria GrandView Research.

Em um relatório sobre a bebida, a consultoria diz que o matcha deve impulsionar o mercado global e cita sua crescente popularidade ligada aos benefícios que pode trazer à saúde. “O produto aumenta a concentração, o foco, a calma do metabolismo, o sistema imunológico, o funcionamento gastrointestinal, a desintoxicação natural e a inibição das células cancerígenas”.

Só na América do Norte, a bebida deve movimentar US$ 481,5 milhões em 2021, enquanto que, no Brasil, a receita deve ser de US$ 43,45 milhões, segundo dados da consultoria indiana Mordor Intelligence.

Diversos estudos ao longo dos anos comprovam os efeitos positivos da bebida. Em 2014, uma pesquisa realizada pela Universidade de Shizuoka, no Japão, apontou que o consumo de 2 gramas do matcha por dois meses melhorou a função cerebral em pessoas idosas.

Pesquisadores também apontam que, mesmo ao adicionar o pó do chá na água quente, o matcha mantém todos os nutrientes da folha —o que pode significar que a bebida tem uma concentração maior de antioxidantes e catequinas (tipo de antioxidante que ajuda no combate de doenças associadas à obesidade, como diabetes) do que uma preparação com apenas as folhas do chá verde. Segundo a Universidade Colorado Colorado Springs (UCCS), o número de catequinas encontrada no matcha é até 137 vezes maior do que o encontrado em qualquer outro tipo de chá verde.

Mais recentemente, em 2019, cientistas da Universidade de Kumamoto, no Japão, encontraram uma correlação entre a bebida e a redução dos níveis de ansiedade e estresse em testes realizados com camundongos.

TikTok, esportes e educação

A Push tem focado (como muitas marcas fazem) em divulgar seus produtos por meio de influenciadores digitais, alguns bastante nichados (com foco em esportes, por exemplo) e outros em redes sociais mais “animadas”, como o TikTok, segundo Rohlfs.

Até um maratonista conhecido por um dos sócios trocou a bebida pré-treino pelo matcha da marca para se sentir mais disposto, como contam os fundadores da Push.

“A gente busca um posicionamento como uma alternativa de energia, foco, disposição, entre vários outros fatores que o matcha dá para as pessoas, então a gente quer educar as pessoas. Muita gente compra a bebida, mas não sabe o que fazer com ela, por isso temos um blog de sugestões”, afirma Wanderley. “Procuramos ter essa comunicação jovem, essa energia.”

A companhia também conta com um apoio de nutricionistas para entender melhor os componentes do produto que vende, além de ter embaixadores para a empresa que têm “sinergia com a marca” e “vestem a camisa”. 

Outra estratégia, que deve ser colocada em prática quando a pandemia do novo coronavírus chegar ao fim, é fazer parcerias com cafeteiras e academias para vender “ativações para estar junto do dia-a-dia das pessoas ensinando sobre a bebida”.

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