Dos bairros que concentram menos casos e óbitos por Covid-19 em Fortaleza, um se destaca por, sozinho, reunir os dois menores índices. O Moura Brasil, situado entre a Jacarecanga, o Centro e a Praia de Iracema, somou do início da pandemia, em março de 2020, até esta sexta-feira (16), 108 confirmações da doença e seis mortes decorrentes dela. Os dados foram colhidos do boletim divulgado semanalmente pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
Com cerca de quatro mil habitantes, segundo a Prefeitura, o Moura Brasil é também um dos menos populosos da Capital e, por isso, proporcionalmente, ter menos casos e óbitos devido à infecção. No entanto, o controle da pandemia no bairro perpassa um trabalho contínuo de vigilância feito pelos próprios moradores que se organizam para cuidar dos mais vulneráveis.
Cuidado com as famílias
No início da pandemia, 35 líderes comunitários locais dividiram entre si a responsabilidade por acompanhar, cada um, 50 famílias que tivessem pessoas em condição de maior vulnerabilidade à Covid-19, como idosos, hipertensos e diabéticos.
“A gente trabalhou pra que eles não saíssem de casa”, lembra o auxiliar administrativo e líder comunitário Pedro André Nascimento, 42.
De acordo com Pedro, as equipes faziam e ainda fazem de tudo: distribuem máscaras, tubos de álcool em gel e cestas básicas, buscam medicamentos no posto de saúde e entregam em casa, encaminham doentes para a rede de assistência à saúde, agendam a vacinação dos que não têm acesso à Internet, orientam sobre isolamento social e tomam outras providências.
Em parceria com o posto de saúde do bairro, a Unidade de Atenção Primária à Saúde Maria Cirino, o grupo já contribuiu inclusive, para organizar os horários de atendimento comum e de vacinação da unidade, para não misturar possíveis infectados com pessoas do grupo de risco que fossem tomar o imunizante.
Legenda:
Moradores do Moura Brasil recebem cestas básicas, máscaras e álcool em gel de lideranças comunitárias.
Foto:
Arquivo pessoal
Além disso, outro ponto de apoio tem sido o econômico. “Foi muito difícil pra alguns moradores daqui. Muita gente teve que mudar”, compartilhou o líder comunitário. Segundo ele, uma parcela significativa dos moradores do Moura Brasil é composta por comerciantes do Centro que, até esta semana, não estavam podendo trabalhar fora por causa do lockdown.
Para manter alguma renda, ele conta, esses comerciantes tiveram de investir na venda de comidas como bolos, salgados e pastéis feitos em casa. Para contribuir, “a gente divulga [esses pequenos negócios] nos grupos” e a comunidade apoia, comprando.
Respeito às medidas sanitárias
Pedro relata ainda que, diferentemente da primeira onda da pandemia, quando algumas pessoas do bairro ainda não levavam a sério medidas de segurança sanitária como o uso de máscara, agora, o respeito é inquestionável. “A gente percebe que os casos estão muito mais graves, [a infecção] está vindo mais forte”, reconhece o auxiliar administrativo.
Situação epidemiológica de Fortaleza
O boletim da SMS que mostra o impacto da pandemia nos bairros da Capital apontou também nesta sexta-feira (15) que a média móvel de casos confirmados da doença diminuiu consideravelmente, saindo de 839,3 casos para 363,3 casos. Epidemiologista e gerente de Vigilância Epidemiológica de Fortaleza, Antônio Lima, conhecido como “Tanta”, afirma que isso significa “uma redução da transmissão” da infecção. No entanto, a situação segue grave.
Além disso, o epidemiologista comenta que o crescimento do número de óbitos está desacelerando. “Nossa média móvel, de 15 dias atrás, está em torno de 59 óbitos. É elevada, mas parece que não estamos progredindo mais na velocidade em que estávamos”, diz.
Sobre a distribuição de casos e óbitos pelos bairros da Cidade, Tanta reforça que, no que diz respeito a casos confirmados, não houve, nesta segunda onda, uma dispersão focada na região litorânea — onde está situado o Moura Brasil. “Desceu um pouco para a parte sul, chegou, sobretudo, ao Dionísio Torres, Joaquim Távora, e se expandiu para bairros do ‘miolo’ de Fortaleza”, explica.
Saiba quais são as regionais de Fortaleza com menos casos e óbitos
- A Regional 4 é a que tem menos óbitos (952), mas não é a que tem menos casos (20.133);
- A Regional 1 é a que tem menos casos (15.680), mas é a quarta em maior número de óbitos (1.068);
- A Regional 3 não tem tantos casos (17.529) a mais do que a Regional 1 (15.680). Nem tantos óbitos (1.036) a mais que a Regional 4 (952).
Bairros com menos casos e óbitos por regional
Regional 1
Menos casos – Moura Brasil, com 108
Menos óbitos – Moura Brasil, com 6
Regional 2
Menos casos – Praia do Futuro 2, com 210
Menos óbitos – Salinas e De Lourdes empatados, cada qual com 6
Regional 3
Menos casos – Olavo Oliveira, com 234
Menos óbitos – Olavo Oliveira, com 22
Regional 4
Menos casos – Aeroporto, com 136
Menos óbitos – Couto Fernandes, com 11
Regional 5
Menos casos – Conjunto Ceará 2, com 161
Menos óbitos – Parque Presidente Vargas, com 20
Regional 6
Menos casos – Sabiaguaba, com 202
Menos óbitos – São Bento, com 8
Fonte: Boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do dia 16 de abril de 2021.